terça-feira, 22 de julho de 2014

Subversão

FILIPE MALHEIRO, Jornalista
«Qualquer líder que seja eleito com níveis de participação inferiores a pelo menos 55 a 70% dos eleitores social-democratas será sempre um líder a prazo, muito dependente dos resultados das regionais de 2015. Que não haja ilusões quanto a isso.»
 
 
 
 
Desde miúdo que retive a ideia, aliás ainda hoje muito disseminada entre as pessoas, de que quando alguém passava por nós de carro a uma velocidade superior ao admissível, regra geral a reação das pessoas era a de uma quase convicção de que "vai bater de frente na primeira curva".
 
Apesar de existirem sinais, ainda ténues, de que temos potenciais aceleras, a verdade é que não vislumbro, por enquanto, qualquer perigo de baterem de frente nas primeiras curvas de uma estrada que pode ser demasiado sinuosa, e muito menos desejo que tal aconteça a nenhum deles. Refiro-me aos que se aprestam para disputar a liderança do PSD regional.
 
Temo contudo que a proliferação dos ataques pessoais, de alguns comportamentos menos claros numa espécie de pré-campanha - a disputa pela liderança de um partido não é um vale-tudo... - e de uma certa radicalização agressiva do discurso, tudo assente no embuste de se deturpar o que realmente está em causa nesta disputa interna, possa ter um efeito negativo junto dos militantes social-democratas que estão em condições de votar - e só esses votarão - nas diretas de Dezembro deste ano, afastando-os deste processo de decisão que será dos mais importantes de sempre, para o PSD regional, em vez de os mobilizar, de os motivar e de os fazer aproximar-se das urnas.
 
O que nos faltava, o que faltava ao PSD da Madeira, mesmo considerando a segunda volta eleitoral, é que um líder seja eleito com níveis de participação muito baixos. Mais do que reconhecer a culpa de todos os candidatos, caso tal cenário se confirmasse, a fragilidade de um partido com uma liderança eleita nessas circunstâncias acarreta riscos que podem conduzir, em caso de insucesso eleitoral, a um fácil questionar da representatividade efetiva (não confundir com a legitimidade) de quem ganhar.
 
Para que as pessoas percebam, o que nos faltava, num partido com as responsabilidades do PSD da Madeira, claramente a viver tempos diferentes para os quais porventura nunca se habituou nem se preparou devidamente, como lhe competia, com um universo de 10 mil filiados inscritos, dos quais presumo que cerca de 4 mil poderão constituir o universo eleitoral em Dezembro, que qualquer líder fosse eleito com níveis de participação inferiores a pelo menos 55 a 70% dos eleitores social-democratas.
 
Se isso ocorrer será sempre um líder a prazo, muito dependente dos resultados das regionais de 2015. Que não haja ilusões quanto a isso. Isto nada tem a ver com a existência de uma segunda volta, já que qualquer partido pode eleger um líder numa segunda volta, com mais de 50% dos votos, mas menos de 30% de participação.
 
Na minha humilde opinião, repito, há uma subversão, que admito que não seja sequer deliberada e muito menos mal-intencionada, do que vai estar em causa em Dezembro deste ano no PSD da Madeira. Os militantes do PSD quando forem chamados a votar não vão estar a pensar em economia, em saúde, em educação, seja lá no que for. Há um tempo para tudo, haverá um tempo para isso quando o partido tiver um novo líder eleito.
 
O que os militantes pretendem ouvir, com toda a razão, é que soluções existem para o partido, que compromissos os candidatos assumem com as bases, que renovação estrutural e funcional preconizam - até porque essa renovação tem que ser feita, já que a cristalização é um risco - que modelo de funcionamento do partido sugerem, que propostas eleitorais defendem na perspetiva de aproximarem as pessoas dos partidos em vez de manterem este vergonhoso agravamento da abstenção, sobre a qual todos se queixam e lamentam no dia das eleições, nms rapidamente se esquecem no dia a seguir.
 
Ou seja, a prioridade das bases do PSD da Madeira é eleger um líder do partido, não discutir governação. Eleger um líder e a respetiva Comissão Política Regional que estatutariamente dispõe de vários poderes. Em Janeiro de 2015, no congresso regional já convocado, caberá ao novo líder divulgar as linhas gerais das suas propostas e usar o tempo que então disporá para debater tudo o que entender. Dizer que isto é falsear a realidade é mentir descarada e despudoradamente aos militantes e simpatizantes do PSD da Madeira.

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