segunda-feira, 21 de julho de 2014

Contos do além


QUINTINO COSTA, dirigente do PTP-M

 

 O director de campanha passou a chefe de gabinete, cargo que sempre acumulou, e muito bem, com as funções de dirigente do PS. Agora, o ex- director de campanha e dirigente do PS, até já é candidato à concelhia do partido no concelho onde é adjunto da presidência

 

 


Para os lados do além, muito longe do Funchal, havia um regime ditatorial muito forte, popularmente enraizado, controlador, discriminatório e defensor do partido único. Este regime, partia do princípio de que quem não era daquele partido não era um cidadão de plenos direitos, nem tinha qualidade para exercer cargos políticos.
 
Certo dia, uns ilustres líderes partidários da oposição, entre as mesas de café e os 'Passos Perdidos' do Parlamento, conseguiram um admirável consenso - formar uma coligação eleitoral para tentar derrubar aquele poder velho e temível, um poder que nem os mais crentes acreditavam que era possível derrotar tão facilmente.
 
A verdade é que, uns mais crentes que outros, juntaram-se meia dúzia de partidos e formaram uma coligação. O partido maioritário indicou o candidato à presidência da câmara que se queria independente, mas claro indicado pelo partido. E o candidato a presidente independente, de ascendência familiar laboratorial socialista, recorria ao seu laboratório recrutando elementos para formar a lista da coligação em condições de exercer cargos políticos.
 
O tal partido indicava ainda os candidatos à presidência das juntas de freguesia e caso ganhassem, indicavam também para o executivo os seus camaradas de partido. Para o PS, tal como para o partido do regime, quem não é do laboratório não presta nem é um cidadão de plenos direitos. Selado o negócio socialista e publicado pelo diário da casa, como é óbvio independente, era necessário eleger (nomear) um director de campanha, não necessariamente independente, mas obrigatoriamente de génese laboratorial socialista.
 
 Regendo-se pelas normas do negócio firmado, um ilustre desconhecido entraria de imediato em funções e começaria logo a dirigir. Confesso que, como membro da direção de campanha e estando fora da região, muito próximo de Espanha, quando recebi um telefonema de auto apresentação dum tal senhor Iglésias, vibrei e logo pensei na estrela, mas afinal o 'artista' era outro.
 
Passados uns dias, e chegando ao município em questão, toca lá a reunir com os dois 'artistas', o candidato e o director de campanha, indicadas pelo grande PS que na altura valia tão-somente um único vereador municipal. Logo à partida, o candidato deixou claro, “na equipa de vereação não quero ninguém ligado aos partidos, não quero ter dentro da câmara disputas partidárias e nem fazer da câmara um palco de influências partidárias, essa é uma situação que não permitirei”, exaltava o candidato independente abanava a cabeça o tal director de campanha, de seu nome Iglésias.
 
Terminada a campanha, e alcançada a tão desejada, mas nunca acreditada vitória, o presidente “independente”, tal qual um amnésico, esqueceu-se de tudo o que dissera e exigira aos outros . O director de campanha passou a chefe de gabinete, cargo que sempre acumulou, e muito bem, com as funções de dirigente do PS. Agora, o ex- director de campanha e dirigente do PS, até já é candidato à concelhia do partido no concelho onde é adjunto da presidência. Mas o pior disto tudo parece ser o ultimato dado aos presidentes de junta do seu partido: “ou apoiam-me ou a ligação entre a câmara e as juntas sofrerá consequências” (estamos tão habituados a comportamentos destes no PSD).
 
Uma das imagens da galeria de fotos do Facebook do adjunto mostra o valente abraço que deu ao seu presidente. Que bela dupla! A partidarização não está dentro da câmara não senhor, está sim nos braços do presidente, na sua cabeça e no gabinete. Esta narrativa, expressão muito cara aos visados, nada tem a ver com a actual situação no Funchal. Nem tudo o que parece é!
 
Até acredito que, a acontecer no Funchal, seria motivo de afastamento político do tal artista por parte do actual presidente. Até ao momento, tal não se verificou, por isso, tudo o que foi anteriormente dito, é uma história do além.
 
A comprovar o absurdo e a ficção deste artigo, está o seguinte: o senhor Iglésias, adjunto do presidente da câmara do Funchal, nunca se candidataria a uma simples concelhia do seu partido. No mínimo, candidatar-se-ia a secretário-geral do PS. Já teve mais perto do que longe, pois não seria a primeira vez que Lisboa indicava um secretário-geral de fora da região para governar o ingovernável PS – Madeira. Não se lembram do Mota Torres!?

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