quarta-feira, 4 de junho de 2014

Des)Credibilização política

CARINA FERRO, deputada do PS-M

 
 
 “Age apenas de acordo com uma máxima tal, que possas querer que ela se torne, simultaneamente, uma lei universal”, KANT.






Lamentavelmente, continuamos rodeados por maus exemplos éticos e morais um pouco por todo o lado. É valorizado o “chico-espertismo” em detrimento do mérito, da excelência e da integridade política que quase deixou de ser reconhecida a olho nú. Até a própria justiça, aquela que se quis cega, parece punir os mais fracos e deixar à solta os mais poderosos, os que mais crimes de lesa pátria praticam. E assim, num clima de total amoralidade, de que forma se resgata a ética perdida?

É tão difícil resgatar a ética e a moralidade quanto separar os verdadeiros líderes dos falsos e perversos líderes. Parece existir uma promoção exacerbada do desrespeito pelas regras, a promoção e incentivo a ir além do limite daquilo que a sociedade civil pode encarar sem repúdio.
É um estado de alma generalizado da sociedade, onde se penaliza a boa conduta ética, profissional, deontológica e moral. Porque, não tenhamos dúvidas, há uma ténue e frágil linha que separa o amor do ódio, especialmente na política.

E aqui surge uma pergunta decisiva: Será que os fins justificam os meios? É um dilema ético, verdadeiramente. Mas até o próprio conceito de dilema se vê subvertido na política. Só existe um dilema ético quando nós temos que escolher entre uma coisa boa e uma coisa má. Só existe um dilema ético quando sabemos que há coisas que são boas para nós, mas más para a população em geral. Estarão os interesses pessoais acima dos interesses gerais da sociedade civil? Hoje, numa sociedade onde reina a ideia de que todos os meios são justificáveis para atingir determinado fim, torna-se claro para mim que a ética e a moral estão há muito em regressão na Madeira.

A facilidade com que hoje se vê políticos, ou técnicos da política, ou representantes de partidos a falar sem qualquer preocupação de exactidão nos factos, nos números, nas análises, nas propostas e nas consequências de tais declarações transmite claramente uma mensagem de que tudo é ligeiro, de que tudo é volúvel, de que tudo se pode dizer hoje e que amanhã se pode dizer o oposto, sem qualquer tipo de reprovação popular. Tudo isto contribui para a abstenção, para o afastamento da população às grandes decisões governativas do país e da região. E tudo isto contribui para que muitos partidos não recebam o voto de confiança, precisamente porque não existe a confiança.

Já diz o povo, sabiamente, “Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti”. Nós somos exímios na ética, mas na terceira pessoa, i.e., somos muito exigente no que toca a dizer o que os outros devem fazer. No fundo, acaba por não ser moral, é moralismo. E o problema mantém-se, o da ética na primeira pessoa, o princípio base que define se a nossa consciência está tranquila, se podemos dormir descansados, ou se algo nos tira o sono.

Termino, com um apelo à consciência de cada um de vós, que equacionem se realmente se governa e se faz política apenas para as próximas eleições e não para as próximas gerações, e quem realmente defende a discussão e o debate que deve existir em torno das grandes questões geracionais nos programas dos partidos e programas de governo, quem realmente pode fazer diferente, e melhor.

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