domingo, 22 de junho de 2014

Somos assim...


FILIPE MALHEIRO, Jornalista
«O treinador Bento, que de indiscutível nada tem, quando a Alemanha chegou aos 3-0 (para não dizer antes), teria poupado um Ronaldo que reconheceu, ele próprio, não estar no seu melhor, pensando menos nos "boches" e mais nos EUA que este domingo defrontamos no "caldeirão" infernal de Manaus. Nada disso, deixou-o em campo, à espera dos 4-0...»

Somos uma espécie de país à procura do seu rumo. Todos exigem que Cavaco, a nossa "rainha de Inglaterra" de Belém, demita este governo e afaste esta corja bandalha do poder. Mas depois, o que é que acontece numas miseráveis eleições europeias, que nem sequer servem para limpar a sola do meu sapato - provavelmente porque cada vez mais penso que esta Europa bufa não tem mais remédio, se não acabarem com estes egoísmos nacionalistas e esta ideia de que os mais fortes e mais ricos podem esmagar e subjugar os mais pequenos e tesos? Os partidos do tal governo que alguns exigem que seja apeado, totalizam mais de 950 mil votos e perdem as eleições por escassos 80 e tal mil votos, perdendo apenas mais um mandato que o PS. Resultado mau? Péssimo, se comparado com eleições anteriores. Mas suficiente para que Cavaco dê uma batatada em cima da mesa e faça o que a esquerda e alguma racionalidade apartidária assente no pragmatismo e na lógica esperam e/ou exigem? Obviamente que não.

Sobre a troika, todos percebemos. Ela não sairá de Portugal, nem isso sequer alguma vez esteve em cima da mesa. Manipularam uma data, deturparam uma situação humilhante para um país independente (?), empolaram decisões, sabendo que tudo isso teve a ver com a tentativa de atenuarem a derrota eleitoral nas europeias, porquanto os credores a continuarão a desembarcar em Lisboa, agora com a única diferença que o farão mais discretamente. Não tenhamos ilusões, continuaremos, segundo as próprias instituições internacionais, a ser um dos países mais endividados e pelo menos um dos que mais dinheiro devem ao FMI.

Para não pensarmos nessa nossa desgraça coletiva, surgiu o Mundial de 2014 no Brasil, com uma seleção endeusada - claramente a dar os últimos sinais na antecâmara de uma renovação geracional que mesmo que não queiram fazer, porque há sempre complexos e resistências, vai ter que ser feita nem que seja à força - que na estreia levou 4 batatadas da Alemanha. Imaginem só, logo da Alemanha de Merkel.

Uma seleção que viveu semanas a fio (ainda continua a viver) numa espécie de estase coletiva (e informativa) em torno dos "mistérios" daquela perna de Ronaldo e de uma alegada lesão mal curada que um jornal espanhol avisou que pode ser catastrófica para o madeirense, caso forcem demasiado com ele. Aliás, o treinador Bento, que de indiscutível nada tem, quando a Alemanha chegou aos 3-0 (para não dizer antes), teria poupado um Ronaldo que reconheceu, ele próprio, não estar no seu melhor, pensando menos nos "boches" e mais nos EUA que este domingo defrontamos no "caldeirão" infernal de Manaus. Nada disso, deixou-o em campo, à espera dos 4-0 de uma Alemanha que claramente desacelerou no segundo tempo por causa do calor e a pensar já no Gana que nem foi capaz de vencer este sábado.

Enquanto isso, eis-nos perante o escândalo do BES, não por causa das mudanças propriamente ditas, impostas, ao que se diz, pela entidade reguladora (neste caso o Banco de Portugal que não fez puto quando o anterior governo de Sócrates nos levou para a falência, e levou-nos mesmo!), mas pela sucessão de maus negócios e pelo monumental e estranho buraco na estrutura internacional do BES, com a vertente angolana deste banco a derrapar qualquer coisa como 5 mil milhões de euros, metade dos quais parecem que continuam sem paradeiro! Aliás, dei comigo a pensar, provavelmente porque ninguém consegue esquecer o BPN que já ultrapassa os 7 mil milhões e não tem fim à vista: se este novo potencial buraco for maior que o anunciado - e o demissionário Salgado terá batido com urgência à porta de Passos, sem sucesso, e realizado uma viagem surpresa e relâmpago a Angola em busca de "cuanzas" que pelos vistos não chegaram a tempo - entraremos pelo esgoto definitivamente? O que esta espécie de país precisava mesmo era de um banco a dar o "berro"…

Falhou a ideia de corrermos a troika a pontapé, que nem o tonto relógio de um Portas a perder qualidades - enquanto demagogo e fazedor de propaganda - disfarçou. Falhou a aposta numa seleção nacional capaz de mandar a Merkel para o hospital com diarreia, à custa de uma derrota alemã na estreia do mundial do Brasil, com a qual todos sonhamos. Depois das guerras com o TC, a propósito do acórdão, bendito para alguns, maldito para outros - venha o diabo e escolha - com um governo a comportar-se de forma infantil, mais parecendo um péssimo aluno, que não consegue ao longo do ano mais do que 8 ou 9 mas que exige depois no exame final, lograr na secretaria, a soco e pontapé, um 17 ou 18 que disfarce a sua incompetência e impreparação, só nos faltavam estas guerras capitalistas a que se junta o desfecho, que não me surpreende, do estranhíssimo caso do miúdo Daniel da Calheta, ainda sob investigação criminal, que a PJ parece ter finalmente desvendado ao descobrir pontas que estavam soltas, ao que se diz graças a ajustes de contas pessoais entre os membros do casal, num processo de divórcio com acusações de violência doméstica à mistura.

Somos, sim senhor, uma espécie de país, que não pode por isso ser levado a sério. Valha-nos a festa rural em plena Avenida da Liberdade, no centro de Lisboa, com porcos, galinhas, cabras, ovelhas e hortaliças à mistura, que dá uma imagem bem concreta da nossa triste dimensão. Um dia destes farão aquela “coisa” na pista do aeroporto de Lisboa e desviam os aviões para Beja. Querem apostar?! Enfim, somos assim mesmo, somos tudo isto...

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