CARINA FERRO, deputada do PS-M |
São tempos de crise, em que se diz ao povo que "o país está a melhorar", mas não os portugueses.
Na Madeira, descobriu-se um inédito excedente de "200 milhões de euros", mas os madeirenses estão cada vez mais pobres. Os nossos parentes pobres da administração pública regional, a educação e a saúde, são os grandes contemplados dos cortes orçamentais, mas a Madeira está a recuperar, dizem. Renegociaremos o PAEF em 2015, dizem. Menos saúde, menos educação e menos futuro, significam "superavit" para o Governo Regional. A realidade é totalmente contrária.
Não há maior perigo para uma sociedade desenvolvida do que um défice contínuo nos montantes de investimento para a educação e a saúde.
Quem de nós nunca ouviu falar em números alargados de jovens que desistem do ensino superior por dificuldades económicas? E quantos saíram da Região? Mais grave ainda, quantos abandonaram a escolaridade obrigatória à custa da "crise" (que parece já nem existir segundo o discurso dos nossos representantes governamentais)?
1143 alunos que frequentavam a escolaridade obrigatória saíram do sistema de ensino entre agosto e setembro de 2013. A pergunta coloca-se, é inevitável. Para onde foram esses alunos??? Não são bebés em creches cujos pais,por terem ficado desempregados, os tiram da escola, não. São crianças entre os 6 e os 18 anos que abandonaram a escola, seja por força das dificuldades económicas dos pais, seja porque os pais foram atirados para o limbo do desemprego e a única mão que se lhes estende é a da emigração.
Dizem que há um "excedente", que a consolidação financeira e orçamental está a correr às mil maravilhas, que o desemprego baixou. Tudo sinais de recuperação, efectivamente. Mas o desemprego baixou porquê? Há vários aspetos a considerar:
1. Muitos deixam de fazer parte das estatísticas regionais (durante três meses) por não reenviarem um documento que lhes é enviado pelo Centro de Emprego a perguntar se querem continuar inscritos ou não. E, durante três meses, ainda que desempregados, não podem reinscrever-se no Centro de Emprego.
2. Os emigrantes não são contabilizados como emigrantes, existe apenas uma suposição do número de emigrantes madeirenses porque, ao que parece, o SEF não consegue contabilizar estas saídas da Região. Os números que existem estão longe da realidade regional, e são números que não são reduzidos em termos de população activa. Ou seja, os emigrantes não reinscritos no Centro de Emprego contam para as estatísticas da descida do desemprego.
Abandonar a Madeira, abandonar a escola por falta de dinheiro acaba por ser a escolha de muitos madeirenses, ainda que não haja números oficiais sobre esta tendência. É uma realidade inegável que tem que ser combatida urgentemente.
Já dizia Eça de Queirós: "Em Portugal quem emigra não é, como em toda a parte, a transbordação de uma população que sobra; mas a fuga de uma população que sofre (...) a miséria que instiga a procurar em outras terras o pão que falta na nossa."
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