segunda-feira, 17 de março de 2014

Mémórias curtas

FILIPE MALHEIRO, jornalista
 Acredito que vamos entrar num novo ciclo. Não tenho dúvidas quanto a isso. Um novo ciclo para o PSD regional e para a política regional e com novos protagonistas (...) esse novo ciclo não significa o valer-tudo nem certamente se compadecerá com oportunismos, saloiadas ou piruetas motivadas pelo oportunismo desmedido e pela ambição.
 
O futuro do PSD da Madeira continua na primeira linha das preocupações de alguns, incluindo de muitos que aparentemente – só aparentemente – não têm nada a ver com o assunto, já que nem sequer são simpatizantes, nem nunca foram eleitores, do PSD. Há, portanto, um outro tipo de interesse, porventura objetivos políticos que não podem ser escamoteados e que devem ser pensados e refletidos pelos militantes e simpatizantes social-democratas regionais.
 
Neste quadro, temo muito sinceramente, que no final de tudo isto, não haja nada por que lutar, que se tenham perdido referências e valores, que o PSD regional, de repente, seja obrigado a perder o seu património histórico, que obviamente inclui erros e virtudes, vitórias e desaires, sucessos ou fracassos. Temo que as pessoas se tenham distanciado e perdido a confiança em causas que sempre defenderam e abraçaram, que sejam atiradas por causa de disputas tontas e teorias absolutamente absurdas para um estado de ainda maior descrença e que o partido seja relegado para uma longa e penosa travessia do deserto, por culpa própria.
 
Mas temo sobretudo que os que possam ser os potenciais responsáveis por essa "proeza" que aqui antecipo, apenas a título de exemplo, continuem a pavonear-se por aí, como se nada fosse com eles, convencidos que são uma espécie de “salvadores” a destempo de coisa nenhuma, ou que, pior ainda, continuem depois da derrota reservada a alguns deles - porque só um ganhará - convencidos que têm imagem pública, iludindo-se e iludindo as pessoas, provavelmente convencidos que os eleitores são mentecaptos mergulhados numa letargia caracterizada por uma generalizada memória curta coletiva, mesmo que muitas vezes nos deixem essa dúvida.
 
Acredito que vamos entrar num novo ciclo. Não tenho dúvidas quanto a isso. Um novo ciclo para o PSD regional e para a política regional e com novos protagonistas – processo de mudança que não se limitará ao PSD – vem a caminho. Não me perguntem se para bem ou não de todos nós, porque não sou adivinho. Uma coisa é certa, esse novo ciclo não significa o valer-tudo nem certamente se compadecerá com oportunismos, saloiadas ou piruetas motivadas pelo oportunismo desmedido e pela ambição. Acredito no bom senso e na inteligência dos militantes dos partidos, neste caso dos militantes do PSD, que serão chamados a votar e a escolher quando esse tempo chegar.
 
Já escrevi, e repito, que se não houver integridade intelectual, se não houver seriedade no debate que inevitavelmente terá que ser feito para se compararem programas e perceberem propostas, se não for travada uma estranha obsessão em atirar um passado partidário construído ao longo de 40 anos de história para debaixo do tapete - repito, com defeitos e virtudes, com coisas boas e coisas más, até porque também na política não há nem “salvadores” da treta nem a perfeição plena que alguns reclamam ou outros exigem – temo que possamos estar perante um monumental embuste que não dignifica ninguém, mas que enxovalhará merecidamente aqueles que assim se comportem.
 
De repente, até parece que ao longo destes 40 anos os protagonistas foram outros, ou que os cargos políticos foram exercidos ou desempenhados por extraterrestres, entretanto pulverizados, e não por todos aqueles que o povo conhece, incluindo os que agora parecem querer esconder-se atrás de um cabo de vassoura.
 
O discurso político pode vaguear em função do circunstancialismo, do oportunismo desenfreado, de uma obsessão tardiamente surgida, e de um rol imenso de conveniências, Mas não se compadece com a falta de rigor e com a falta de ética e de seriedade. A honestidade na política, a coerência, a preservação de uma dimensão ética são atributos fundamentais a um debate político sério, qualquer que ele seja, desde que apostado em mobilizar os cidadãos.
 
Acredito que as pessoas, sejam elas militantes de partidos com quotas pagas, simpatizantes que hoje votam no partido A mas amanhã votam no partido B - daí o desajustamento absoluto de certas propostas – ou apenas eleitores descomprometidos que não dão cavaco a ninguém sobre as suas opções nas urnas, não têm memória curta, não se deixam enganar por embustes, tenham eles a "justificação" que tiverem, e votarão quando lhes pedirem de acordo com a liberdade de pensamento e de escolha.
 
Não há, não pode haver, qualquer tolerância perante a tentativa de institucionalização de um oportunismo sem limites na política, seja qual for a dimensão que ela é olhada. A política madeirense teve e tem os protagonistas de todos conhecidos, uns com mais responsabilidades que outras, uns em posições públicas de maior destaque que outros, sem que se tenha percebido ao longo de todo esse tempo, enquanto por lá estiveram nada de concreto em termos de expressão pública de "divergências" agora exploradas por mera conveniência.
 
Não me parece recomendável, de um momento para outro, só porque passou a ser chique, dizer o piorio de Alberto João Jardim, com quem estiveram, por quem foram escolhidos, só porque a política deixou de ter regras e a verdade e a honestidade deixaram de ser atributos essenciais. O que nada tem a ver com o direito e a liberdade, que eu também reclamo para mim, de discordarmos, de questionarmos, preferencialmente no momento próprio, de propostas ou de decisões e de podermos inclusivamente contestar escolhas feitas.

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