sábado, 1 de março de 2014

A pobreza

Quintino Costa, dirigente do PTP


Ser pobre não é uma fatalidade. Os responsáveis pela pobreza não são as próprias vítimas. Quem defende a pobreza? Teoricamente ninguém a defende, todos têm vergonha dela. A pobreza, por vezes, parece ser filha órfã, já que ninguém quer assumir a sua paternidade.



Há teóricos que defendem que a pobreza é uma fatalidade social, outros defendem que esta é da responsabilidade dos próprios pobres, no entanto há outros que têm uma teoria bem diferente, grupo onde me incluo. Para estes últimos, tal como para mim, a pobreza é o resultado de uma sociedade injusta e exploradora que concretiza os ideais de um regime capitalista que não olha a meios para alcançar os seus propósitos.

Ser pobre não é uma fatalidade. Os responsáveis pela pobreza não são as próprias vítimas. Quem defende a pobreza? Teoricamente ninguém a defende, todos têm vergonha dela. A pobreza, por vezes, parece ser filha órfã, já que ninguém quer assumir a sua paternidade.

Os capitalistas até falam na necessidade de combater a pobreza. A classe alta organiza peditórios, a igreja abençoa a esmola, a classe média, que na sua maioria não passa de extractos sociais de pobres mas com algumas condições de vida, faz um ataque feroz à pobreza argumentando e criando condições para que a demagogia rasca reine e para que a direita defensora intransigente da pobreza e da exploração desenvolva toda a legislação a favor das suas ambições ideológicas.

Porque será que a classe média por vezes ataca os pobres? A humanidade tem a necessidade de ter na sua mão um bode expiatório para atribuir as suas falhas e é sempre o elemento mais fraco da sociedade. O elemento mais fraco, mesmo humilhado, gosta de se juntar aos poderosos. Vejamos o exemplo dos países europeus e a posição que assumem em relação à Alemanha e esta, por sua vez, com os EUA!? Mesmo sendo enxovalhados e humilhados os mais fracos continuam a defender os mais fortes. Nas classes sociais a situação é idêntica, já que os pobres, atacando-se mutuamente, aliam-se às classes superiores, enquanto os representantes da exploração acabam com os direitos sociais, com as liberdades e garantias do povo.
 
O patronato não paga os miseráveis ordenados a tempo e horas, há relatos de violência física por parte dos patrões e quando um deputado na Assembleia Legislativa da Madeira (José Manuel Coelho) denunciou estes comportamentos miseráveis o Presidente do Parlamento, numa tentativa de silenciá-lo, desligou o microfone. Pior do que isto foi o comentário ("em off") de um deputado de esquerda que confirmou conhecer o assunto mas que não estava disponível para fazer aquela palhaçada. Onde, e desde quando, para a esquerda é uma palhaçada denunciar publicamente atentados à integridade física dos trabalhadores?

Este comportamento de uma figura de esquerda é semelhante à de uma criatura da extrema-direita que, durante uma campanha eleitoral, suplicava continuadamente: Se querem ganhar eleições, não me falem em pobresOs responsáveis pela pobreza e pelos pobres têm vergonha do produto que eles próprios fabricam com o intento de alimentarem a sua riqueza. No caso do ilustre deputado de esquerda, por quem nutro uma elevada consideração, continuo a considerá-lo um defensor incansável no combate à pobreza, mas a sua cegueira e ódio de estimação que tem ao denunciante, levaram a que proferisse tamanha barbaridade.

Quanto à segunda figura, suplico-lhe para que não me fale em senhorios ressabiados que sonham com novas formas de exploração, reprodução da pobreza e escravidão e façam delas o seu sucesso, muito embora tenham vergonha de o assumirem. A felicidade dos capitalistas e ex-senhorios sem escrúpulos é a divisão dos pobres, acabar com as políticas sociais, com o trabalho com direitos, e quando lêem artigos como este dizem que "cheiram a mofo". 

Gostando ou não dos protagonistas e das suas formas de agir, a esquerda não pode dar tréguas nem descanso aos industriais de pobres. A pobreza não é uma fatalidade mas sim uma consequência. A exploração laboral, a escravidão e o ataque aos direitos sociais encontram caminho fértil no seio da pobreza desprotegida.

Na Madeira, a esquerda sofre de limitações quantitativas e qualitativas, situação que nós, homens e mulheres de esquerda, deveríamos reconhecê-lo. Normalmente, temos o defeito de nos colocarmos num nível superior em termos políticos, culturais e sociais, e por vezes caímos na tentação de afirmar que o Povo não está preparado para perceber a nossa mensagem e colocamo-nos acima do Povo - esse é o nosso grande pecado! A esquerda discute entre si numa tentativa de descobrir qual é a esquerda mais pura enquanto a direita continua livre a desferir golpes contra os oprimidos. Viva Abril!

Sem comentários:

Enviar um comentário