sábado, 8 de fevereiro de 2014

Europeias: a pole position das regionais.

CARINA FERRO, Deputada do PS-M
 
 
As Europeias serão, certamente, a melhor sondagem que teremos para as eleições legislativas nacionais e regionais de 2015.
 
 
 
As Europeias são eleições “diferentes”, sim. Não se podem comparar com as nacionais ou regionais, é um facto. Mas é certo que o desaire eleitoral nas Europeias condicionará a impetuosidade com que os partidos seguirão para o combate político nos meses subsequentes à eleição de 25 de maio. Dir-me-ão que é pouco provável. Eu, até Setembro último, também achava pouco provável que os madeirenses repudiassem o “pacto de silêncio” regional às medidas nacionais de forma tão convicta.
Em campanha autárquica aprendi um novo conceito: “o efeito de onda submersa”. Um conceito que consiste numa teoria muito simples: se um partido, em sondagens, tem uma tendência de crescimento, no dia das eleições, crescerá; se um partido, pelo contrário, tem vindo a descer nas sondagens, é certo e sabido que no dia das eleições, o resultado será em descendo aos resultados anteriores. E assim foi em Setembro de 2013. E assim será em maio de 2014. E assim será em 2015.
É inevitável perguntar se os partidos, os partidos da maioria (PS, PSD, CDS) estarão preparados para o escrutínio do povo numa fase em que o medo desapareceu e os madeirenses pedem, legitimamente, mais e melhor. Muitos dizem: “Nós faremos diferente!”. Sim, fazer diferente, qualquer um faz, mas fazer melhor, é bem mais difícil. O mesmo se passa nas Europeias: não basta fazer diferente, é preciso fazer melhor.
É certo que as eleições Europeias “passam ao lado” a muita gente, porque existe um sentimento negativo associado à ideia de “Europa”, ao contrário do que se passava antes da grande crise de 2008. Antes da grande crise, a ideia que os governantes transmitiam aos cidadãos europeus era a de que a Europa, a União Europeia, traria mais dinheiro, mais desenvolvimento e, consequentemente, melhores condições de vida.
Hoje em dia, falar em “Europa” suscita sentimentos de aversão e revolta, porque foi da “Europa” que emanou a Troika, e as medidas de austeridade. No fundo, a convicção é a de que as medidas de austeridade não seriam necessárias, mas que foram impostas pela “Europa”. É imperativo desmistificar esta ideia, e é esse o grande papel de um candidato a eurodeputado. O papel principal de um eurodeputado passa, precisamente, por aproximar o cidadão à União Europeia e suas instituições e por desmistificar a ideia de que a “Europa” é algo “lá fora”, da qual não fazemos parte.
 Questões multilinguísticas e multiculturais à parte, trata-se de demonstrar que a Madeira também é parte integrante do “sonho europeu” de Monnet, Adenauer e Schuman, mas não apenas na lógica dos fundos comunitários. A UE não pode ser vista apenas como o banco que tem a obrigação de nos financiar a casa, mas que não nos pode cobrar juros por incumprimento de pagamento. A “Europa” é muito mais, e pode dar muito mais, mas na medida em que estejamos preparados para dar à “Europa” algo mais do que um caderno de encargos de infraestruturas públicas que ficaram por terminar quando a famigerada dívida oculta decidiu o nosso futuro na Madeira.
E aqui surge outra questão inevitável, que me leva de novo a uma das questões colocadas inicialmente: estarão os partidos da maioria preparados para o combate político do futuro? Será a estratégia política definida pelos partidos da maioria a melhor estratégia? Talvez. Talvez não. Os madeirenses não estão satisfeitos com as imposições da República, é certo, e isso reflectir-se-á no próximo ato eleitoral, da mesma forma que se reflectiu em Setembro de 2013 o “drawing the line”, traçar o limite.
Os madeirenses decidiram que chegámos ao limite, que não aguentamos mais austeridade. E os madeirenses, da mesma forma que castigaram o PS-Madeira por ser aquilo que apelidaram em tempos de “um saco de gatos” que pautou durante anos por divergências internas que fragilizaram a estratégia política regional, também castigarão o PSD-M que manifesta claros sintomas de um “saco de gatos” encegueirados pelo sol.
São questões internas, pois que as resolvam internamente. Sempre entendi que as questões internas dos partidos só dizem respeito aos partidos e respetivos órgãos legitimados para agir nestas matérias, e mantenho. Trazer para a praça pública claras demonstrações de “sede de poder” retiram toda a legitimidade política a qualquer militante que se queira propor líder de um partido, ainda para mais um partido de governo.
O que o partido do governo ainda não percebeu é que um candidato que tenta fazer implodir um partido, jamais será um verdadeiro líder. O verdadeiro líder é aquele que reúne consensos, que une o partido, que tem pulso firme. Não é o caso.
Um partido que apresenta um excedente de candidatos em tempo de crise, é um partido que não olha para a estratégia política da prioridade às necessidades dos madeirenses. É apenas um partido com uma estratégia de “ar encanado” que reflecte ganância pelo poder. Não é ambição, é ganância. É a estratégia do poder pelo poder, sem olhar às consequências da desestruturação do partido. Um verdadeiro líder, um legítimo candidato, pauta pela humildade e seriedade na sua atuação, não vem dizer que é o único capaz de ganhar eleições.
 Costumo dizer que o perigo está na ganância pelo poder, não na ambição. Da ambição nasce o sonho. Da ambição nasceu um novo sonho político à esquerda, para a Madeira e para os madeirenses. É esse o futuro.

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