domingo, 12 de outubro de 2014

Partidos e aparelhos


PEDRO MOTA, Jurista
 «Os militantes terão de escolher o seu candidato de acordo com a vontade exterior e nunca presos aos ditames de um qualquer aparelho partidário. Não obstante esta ideia, há quem ache que o aparelho do partido tudo determinará e tudo resolverá. Mesmo que assim suceda durante breves meses, a legitimação eleitoral – a que é dada pelo povo – estará cada vez mais distante.
 
 
 
Voltando à reflexão sobre o sistema partidário interessa notar que as primeiras eleições primárias abertas a simpatizantes realizadas em Portugal foram um sucesso. Efectivamente, a legitimação deve vir do exterior. Até o Rei é aclamado pelo povo sendo essa a sua legitimação. Nos partidos não deve ser diferente. Vem isto a proposito de diversas sagas partidárias muito em voga com jogadas “na secretaria” que têm por escopo manter o poder. Afinal a política é isso: Luta pelo poder.

Simplesmente, em minha opinião, esse poder deve ser legitimado por algo exterior à instituição. Quer isso dizer que os militantes terão de escolher o seu candidato de acordo com a vontade exterior e nunca presos aos ditames de um qualquer aparelho partidário. Não obstante esta ideia, há quem ache que o aparelho do partido tudo determinará e tudo resolverá. Mesmo que assim suceda durante breves meses, a legitimação eleitoral – a que é dada pelo povo – estará cada vez mais distante.

É urgente uma abertura e uma aproximação dos partidos aos cidadãos. Recentemente, até o Presidente da República alertou para o risco de implosão da democracia partidária. (Como se nada tivesse a ver com isso. Afinal, como todos sabemos é o Presidente de “todos” os portugueses eleito com cerca de 20% dos votos.) Enfim, é a legitimação que temos.
 
Esse alerta presidencial acabou por ser importante porque aquilo que existe hoje é uma aversão dos jovens aos partidos. Existe até – as palavras não são minhas – quem considere que só entram na política aqueles que não possuem notas escolares suficientes. Este pensamento faz parte de uma entrevista excelente (e que recomendo) dada pelo ex-ministro Campos e Cunha ao Jornal i.
 
Meus senhores, o futuro é hoje. Por mais que tentem impedir, os manobradores de aparelhos partidários estão condenados ao fracasso. É preciso outra coisa, mais aberta e mais transparente. 

1 comentário:

  1. Amigo Mota, o futuro começou ontem e não termina amanhã.

    Campos e Cunha na entrevista que mencionaste, de resto, brilhante como é seu timbre alerta para algo muito mais grave, transversal a todo o universo político europeu e norte-americano, que é a potenciação de pessoas sem valores, não só intelectuais, mas, essencialmente, morais.

    A abertura dos partidos só irá ser feita quando estes se sentirem ameaçados por movimentos de cidadania como o "Podemos" em Espanha, movimento esse que, até ver, não tem paralelo no resto do mundo.

    Abraço e parabéns pelo artigo.

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