terça-feira, 7 de outubro de 2014

Falta a vergonha e tudo o resto!

CARINA FERRO, deputada do PS-M
 Pouco nos diz o Sr. Secretário, além da sua ágil tendência em esconder-se atrás de regulamentos e portarias que não coloca sob o escrutínio da Casa da Democracia madeirense. Pouco deixará à educação regional, mas muito tirará à classe docente e aos nossos alunos. Que o seu contributo, Sr. Secretário, fique por aqui. Os nossos filhos agradecem.
 


Li muito sobre o caos da educação na Madeira nos últimos dois meses. Muito mesmo. Sobre listas publicadas umas atrás das outras, sem critérios claros, sobre tudo e todos, e ainda li como conseguiram deixar de fora professores contratados a quem lhes foi atribuído um horário letivo, contratados que tinham direito à renovação, contratados que estão agora entregues à sua sorte.
 
Li muito sobre isto, mas o que mais me chocou – além da famigerada intenção de contar uma mentira tantas vezes até que torná-la verdade [o processo de colocação de professores está a decorrer dentro da normalidade] – foi o seguinte: “Compreendemos e achamos que as pessoas reagem e reagem naturalmente com emoção, mas a racionalidade da gestão do sistema educativo e a racionalidade da gestão do erário público implicam que tenhamos que ter a clarividência de não ceder a fazer contratações hoje que impliquem que amanhã tenhamos que recorrer, por excesso de mão-de-obra docente nas escolas, a sistemas de mobilidade especial que levem ao despedimento desses mesmos professores. Isso seria uma falta de visão e desde logo uma maneira ardilosa de enganar os professores que eventualmente viessem a ser contratados nesta data”, disse o Sr.Secretário. “Já temos um entendimento com os parceiros sociais, com as escolas, que este estatuto de renovação será extinguido numa próxima iniciativa legislativa”, disse o Sr.Secretário.
 
E o que o Sr. Secretário não disse foi que:
a) a “falta de visão” de que acusa a todos aqueles que, hoje, exigem renovação e a consequente vinculação a que têm direito (de acordo com o diploma que o Sr. Secretário aprovou em julho), é a mesma que o Sr. Secretário tem demonstrado ao longo do seu mandato;
b) a “maneira ardilosa de enganar os professores” já foi perpetrada com este seu coup d’état na publicação de listas atrás de listas, tentando confundir até os professores que constam dessas listas – onde, neste planeta, já se viu um governante publicar listas atrás de listas, corrigindo umas, eliminando outras, escondendo potenciais erros informáticos e incompetências desmesuradas de alguns responsáveis das chefias intermédias, sem assumir responsabilidade pelo caos que lançou?;
c) a sua intenção de “suprir as necessidades permanentes” das escolas passa por uma base de auxílio de minimis, sem qualquer planeamento estratégico, ou planeamento a médio/longo prazo;
d) já que falamos em planeamento estratégico, ninguém sabe qual a sua estratégia para a educação, o que pretende alcançar com estas medidas, o que pretende deixar como seu legado governativo;
e) além da instabilidade do corpo docente, transformou a educação numa rede de infraestruturas em estado de emergência emocional para os nossos alunos;
f) ao aprovar o concurso de professores em julho – ainda que continuamente alertado pelo PS-M de que deveria realizar estes concursos mais cedo, para evitar que as irregularidades nas colocações de professores pusessem em causa o desempenho escolar do aluno – atrasou o processo de colocação de professores e, mais grave ainda, criou um mecanismo que apelidou de “transparente” que não trouxe mais do que irregularidades e injustiças nas colocações, - irregularidades que servem agora para usar como arma de arremesso aos professores e, com a sua típica “clarividência”, anunciar o fim das renovações e a “grande visão” dos contratos a termo resolutivo, que não é mais do que o espelho daquilo que pretende para a Educação: Precariedade.
 
Mas pouco nos diz o Sr. Secretário, além da sua ágil tendência em esconder-se atrás de regulamentos e portarias que não coloca sob o escrutínio da Casa da Democracia madeirense. Pouco deixará à educação regional, mas muito tirará à classe docente e aos nossos alunos. Que o seu contributo, Sr. Secretário, fique por aqui. Os nossos filhos agradecem.
 
 
 

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